Desde cedo, ainda na faculdade, nos debruçamos sobre inúmeras possibilidades e soluções criativas para atender as necessidades das pessoas. Nesse tempo tudo ainda era muito hipotético, tanto o problema quanto o cliente, por isso, durante um longo período, focamos em ampliar nosso repertório, buscando sempre inspiração e assertividade diante das inúmeras ideias que surgiam.
Com a prática ao longo dos anos, nosso processo projetual amadureceu e novas questões surgiram:
- Qual o nosso propósito para além do desenho?
- O que hoje comunica a nossa arquitetura?
- Estaria ela acessível a todos?
- Será que temos conseguido comunicá-la de forma coerente e clara aos nossos parceiros e clientes?
- Como podemos melhorar essa comunicação para favorecer uma conexão mais alinhada com nossos propósitos?
Não se trata mais de questionar intensamente nossa habilidade técnica para determinada resolução, mas sim nossa habilidade humanista de refletir como essas soluções têm influenciado no cotidiano das pessoas.
A internet hoje nos permite uma comunicação ampla e ramificada, que podemos direcionar para responder muitas dessas nossas questões. Talvez precisemos romper com alguns ritmos e métricas impostos pelas redes, mas antes precisamos perceber em qual esfera de diálogo queremos chegar.
Nossos clientes já estão nas redes sociais, como encontrá-los diante de tamanha amplitude? Como podemos dialogar? As mídias de arquitetura têm focado, em grande parte, na exposição de desenhos, como um portfólio online de maquetes eletrônicas e fotos. Sim, isso desperta desejo diante do belo, mas apenas pautado em uma imagem visual, pois longos textos não agradam tanto segundo as pesquisas. Alguns dinamizam com vídeos de dicas de obra, mostrando processos, erros e acertos. Mostrar essa rotina de multitarefas é interessante (sabemos bem que são muitas), mas acreditamos que podemos ir além.
Não devemos resumir nosso trabalho à uma exposição do que fazemos, mas de traduzir por que fazemos. Ao adotar esse exercício também despertamos em nossos clientes o mesmo questionamento, por que preciso desse serviço? Como esse projeto pode me auxiliar a identificar minhas reais necessidades para viver melhor? Como a minha empresa ou a minha casa poderiam expressar melhor a minha essência? Se não buscarmos esse diálogo essencialista corremos o risco de ofertar uma “arquitetura supérflua”, insuficiente e equivocada.
Grandes empresas buscam humanizar e personificar sua comunicação, concebem histórias fictícias para atrair mais afeição de seus consumidores. E nós, arquitetas e arquitetos? Por que resumimos nossa mídia a imagens acompanhadas de um programa de necessidades ou apenas da descrição de materiais que justifique o ilustrado? Com quem nossa mídia está dialogando de fato? Tratamos de clientes reais, com demandas e expectativas reais, com storytelling real, podemos comunicar tudo isso com respeito, afetividade e propósito. Essa realidade é nosso fomento para descrever os nossos projetos, talvez não sejam os melhores no ranking das maquetes mais incríveis, mas serão autênticos e únicos.
Aqui no Estar Urbano seguimos respondendo à essas perguntas, algumas com clareza outras com ressalvas. Algumas respostas resultaram em nossa metodologia de trabalho (sentir, projetar, realizar e conectar) outras em premissas de responsabilidade socioambiental em projetos. Acreditamos que revisitar sempre as perguntas é parte do exercício de identificar e alinhar a essência do DNA do nosso trabalho, de nossas crenças e nosso compromisso assumido com o indivíduo e com o coletivo.
Por aqui seguimos com essas reflexões que têm norteado nossos movimentos, nossa forma de projetar e de comunicar o nosso trabalho. Acreditamos que as respostas encontradas até aqui também não serão estáticas ou únicas para todos, mas desejamos poder contribuir com um fluxo positivo e verdadeiro que inspire também a todos nós.
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